segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Dica de livro bacana!
Os anos 90 não tiveram os exageros da década anterior. Não havia roupas amarelo-gema como nos anos 80, os cabelos não eram armados como nos anos 70, e, definitivamente,tudo foi muito mais sóbrio do que as três décadas anteriores juntas.Mas apenas na prática.
A época é o tema do livro O Estranho na Moda: A Imagem nos Anos 1990, de Silvana Holzmeister. A jornalista é editora de projetos especiais da Vogue Brasil e aproveitou sua tese de mestrado para analisar o periodo que influenciou o estilo que se estabeleceu (e se tornou o que é) hoje.
*Estética : As roupas com influência minimalista, cortes retos e ausência de detalhes precisaram vir do outro lado do mundo para enfrentar os resquícios dos anos 80. Foi o Japão que tornou relevante o estilo clean. Os belgas compraram a ideia e logo a Europa nem se lembrava mais das cores fosforescentes de poucos anos antes.
Só que isso só funcionava no dia a dia. Modelos como Claudia Schiffer e Linda Evangelista viram seu padrão de corpo (exuberante, belo e tido como perfeito, mas ainda assim um corpo normal) ser tirado das passarelas a partir da primeira aparição, em 1993, de Kate Moss na Vogue. Começava, ali, uma nova era para a estética na moda.
*Freakshow : Em 1978, a banda americana de disco e R&B Chic cantava que “O freak (esquisito) é chic”. A moda, que faz parte de movimentos culturais e lança vanguardas, sempre se apossou do freak. Mas os anos 90, com toda a sua sobriedade, foram terreno fértil para explorar ainda mais o conceito.
Parece absurdamente contraditório, mas não é. Era necessário encontrar alguma forma de chamar a atenção para aquele estilo. E a forma encontrada foi o contraste das roupas, sóbrias, e sua apresentação, grotesca. Aquela era a moda da imperfeição, da decadência.
*Heroin Chic : É aí que entra Kate Moss. A moça, em 1993, tinha 19 anos, mas cara, corpo e jeito de muito menos. É dessa época que começam a aparecer as modelos anoréxicas, com aspecto de subnutrição – e de ‘usuárias’. “Nos 90, essa coisa de adotar uma imagem que fugia do padrão de beleza se tornou um movimento grande”, conta Silvana.
O período de fim de século também sugeria um clima de tragédia (pessoas apavoradas com a ideia do bug do milênio e até mesmo o fim do mundo na virada do século). E a tragédia permeou os editoriais de moda. Destruição, morte, deficientes físicos foram usados para compor ambientes. “Eram coisas que todos viam todos os dias”, comenta a jornalista. “Mas nunca viam em um editorial de moda. Foi chocante.”
*Ícones : Com essa tendência, o mundo viu surgir grandes nomes que foram fundamentais para que, posteriormente, os anos 2000 tivessem a cara que tiveram. Alexander McQueen, Viktor & Rolf, Corinne Day e Hussein Chalayan foram alguns deles.
No Brasil, a moda começava a caminhar, com o Phytoervas Fashion, o embrião da São Paulo Fashion Week, já com o fenômeno Alexandre Herchcovitch.
O livro de Silvana aproveita para traçar referências que vão desde o filme A.I.: Inteligência Artificial, até citações do filósofo Walter Benjamin.
A década passou já há algum tempo. Mas, em dias de uma estética tão fragmentada e retrorreferencial quanto a nossa, a obra é fundamental.
O Estranho na Moda: A Imagem nos Anos 1990
Silvana Holzmeister
Editora Estação das Letras e Cores
132 páginas
R$ 54.
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